Felizmente, existem
vários exemplos estudos de práticas pedagógicas inclusivas em
aulas de ciências. Dessa forma, o professor que possui alunos com
deficiência pode consultar diversos materiais disponíveis na
literatura. Nesta postagem, será feito um relato sobre uma prática
inclusiva desenvolvida com alunos do curso de Licenciatura em Física.
Grande parte dos recursos
metodológicos tradicionais adotados pelos professores de ciências
são baseados na comunicação audiovisual. O docente se vale desses
sentidos para ensinar ciências, pois expõe o conteúdo que está
ensinando com esquemas visuais e também utiliza a fala para
explicar os esquemas utilizados em sua exposição. Um aluno que
tenha deficiência visual ou auditiva certamente teria o seu
aprendizado prejudicado caso estivesse imerso em um ambiente de
aprendizagem deste tipo. Sabe-se que, mesmo os estudantes sem
quaisquer limitações físicas podem não aprender um determinado
assunto de maneira adequada quando o professor utiliza apena recursos
expositivos.
O professor Eder Pires de
Camargo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) do campus de Ilha
Solteira, no seu livro Saberes docentes para a inclusão do aluno
com deficiência visual em aulas de Física relata que a
abordagem expositiva tradicional pode limitar o aprendizagem de
alunos com ou sem deficiências. Neste caso, uma abordagem que
explore vários sentidos simultaneamente pode viabilizar o
aprendizado propiciando ao aluno novas percepções, como por exemplo
o tato. Neste livro, o professor Eder mostra que vários conceitos
científicos pode ser ensinados pois independem da visão.
O professor Eder passou a
trabalhar o significado das palavras através de percepções, que
não se limitam apenas à visão e à audição, o que veio a chamar
de linguagem semântico-sensorial. Essa abordagem permite a inclusão
de todos alunos em atividades desenvolvidas nas aulas de física.
Entretanto, para promover atividades inclusivas desta natureza, os
professores deverão possuir determinadas habilidades.
Os saberes necessários
aos docentes para trabalhar com percepções multissensoriais ficam mais
claros quando o professor levou sua pesquisa para a sala de aula do
ensino básico. Em sua pesquisa, o professor Eder propôs aos alunos
do curso de licenciatura em Física da Unesp de Bauru a preparação
de minicursos temáticos de Física (ótica, eletromagnetismo,
mecânica, termologia e física moderna) que contemplasse alunos com
sem deficiências. Esses minicursos foram aplicados para trinta e
sete alunos de duas escolas da cidade de Bauru, onde dois eram cegos.
#PraCegoVer:
Figura em colorida mostrando o fenômeno da dispersão da luz, onde um prisma de acrílico, segurado por uma pessoa tem um barbante branco na sua face direita simulando a entrada da luz branca e outros barbantes coloridos espaçados entre si simulam a dispersão da luz branca nas cores do arco-íris.
A pesquisa mostrou que
uma das principais barreiras neste estudo foi a comunicação. A
abordagem dos conceitos físicos discutidos ainda é calcada na
relação audiovisual. Os professores ainda são bastante
influenciados por esse sentido e sentem grandes dificuldades na
descrição matemática de conceitos físicos. Em contrapartida, o
uso de materiais alternativos podem favorecer significativamente a
aprendizagem de física.
Bibliografia
CAMARGO, Eder P. Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de Física. São Paulo: Editora Unesp, 2012. 276 p.